Não é sopa, publicado pela Companhia das Letras em 1995, tornou-se em pouco tempo um clássico da literatura gastronômica brasileira. Além das generosas lições de sabedoria acumuladas à beira do fogão, o livro fascinava pela qualidade literária da autora, Nina Horta, que, até iniciar as colaborações semanais com a Folha de S.Paulo, em 1987, era reconhecida pela excelência de seu bufê, o Ginger. O encantamento provocado nos leitores pela nova colunista não escapou ao olho perspicaz do poeta Décio Pignatari, que endereçou uma carta ao "Painel do Leitor" do matutino paulista saudando um dos textos de Nina como "uma das mais surpreendentes peças literárias destes últimos tempos destes Brasis da prosa prosaica". Duas décadas depois, O frango ensopado da minha mãe faz uma nova reunião de textos inéditos em livro - também originalmente publicados na Folha de S.Paulo -, selecionados com a colaboração de Rita Lobo, discípula confessa de Nina Horta. Eles consolidam a presença da autora não apenas como referência na bibliografia gastronômica, o que já seria muito, mas também como lídima continuadora do melhor da tradição da crônica literária brasileira. Os textos de Nina pretendem falar sobre comida, mas falam de vida. De uma vida simples, rica em experiências e repetições que levam à sabedoria - do jeito que ela prefere a culinária: sem esnobaria e afetação. Bolo de noiva, sardinhas, torresmo e coca-cola são motivos suficientes para evocar a lembrança da revista semanal ilustrada O Cruzeiro, do cheiro do tomate pisado, dos guardanapos de François Vatel, das "varandas mineiras de poucas palavras e muita tosse". Família, amigos, cozinheiros, livros, filmes, lugares, nomes de pratos, modismos gastronômicos, dietas e cuidados alimentares contemporâneos - tudo serve para mobilizar a escrita afetuosa em tom de troca de receitas, a glosa sagaz de quem conhece muita coisa e as escolhas de quem chegou à plena liberdade. Como essa, por exemplo: "Deixem em paz o porco, esse poema". Uma sábia, essa Nina Horta.