Primeiro transgênero masculino brasileiro, João W. Nery percebeu como era difícil envelhecer como trans no Brasil: quem sobrevive apresenta um longo histórico de traumas e tem muitos desafios pela frente. As reflexões e memórias sobre o que chamou "velhice transviada" são seu último trabalho, finalizado pouco antes de falecer, em 2018. Leitura imprescindível. Falar de velhice é difícil, sobretudo quando ela é transviada. O psicólogo, escritor e ativista dos direitos humanos João W. Nery constatou que, no Brasil, essa população - constantemente vítima fatal do ódio ou do descaso - não tem direito à longevidade. Por isso, decidiu escrever sobre os "transvelhos", termo que criou para se referir aos transexuais e travestis que conseguiram ultrapassar a marca dos 50 anos. João sempre foi um pioneiro. Em plena ditadura militar, foi o primeiro transgênero masculino brasileiro a passar por cirurgia de redesignação sexual, aos 27 anos. Obrigado a tirar uma nova documentação para conseguir trabalhar, teve que inventar um expediente: alegou ter dezoito anos e querer servir às Forças Armadas. Deu certo. Renasceu como João, mas perdeu seus registros anteriores, incluindo os diplomas de psicólogo e professor. Com o tempo, se tornou uma referência nos debates públicos e acadêmicos sobre gênero e sexualidade, participando ativamente de uma onda que, pouco a pouco, começava a quebrar preconceitos até então muito arraigados em nossa sociedade. Neste livro, que traz prefácio de Jean Wyllys, João relata o que passou para chegar a ser um transvelho. Também dá voz, por meio de entrevistas, a outros transidosos, na segunda parte destas memórias.